A transformação só acontece com o rosto desvendado. Se não “tirarmos a máscara”, seguramente o poder transformador operado pelo Espírito Santo não irá se manifestar:
“E todos nós, com o rosto desvendado, contemplando, como por espelho, a glória do Senhor, somos transformados, de glória em glória, na sua própria imagem, como pelo Senhor, o Espírito.”
2 Coríntios 3.18)
Você já percebeu a intensidade e a velocidade de transformação que se dá na vida de um novo convertido? Porém, em algum momento na caminhada, o processo de transformação e mudança de vida começa a estagnar. E não é porque o processo – de se conformar com a imagem de Jesus – já tenha se completado!
Depois de mais de vinte anos de ministério, observando o comportamento dos cristãos, posso dizer que isso é um fato. A transformação na vida dos crentes em geral parece perder sua força com o passar do tempo. E penso que uma das grandes razões para isso é que, no início da vida cristã, após a conversão, todos reconhecem as áreas que precisam tanto de mudança e se alegram por toda transformação alcançada (e até testemunham). Porém, depois de um tempo e de muitas vitórias alcançadas, quando o crente começa a ser reconhecido pelos seus irmãos como alguém mais maduro e espiritual, a tendência é não ser mais tão transparente ou sincero a respeito das falhas. E isso vem desde os tempos bíblicos!
Observe, por exemplo, o que aconteceu quando a Palavra de Deus foi pregada em Éfeso:
“E muitos dos que haviam crido vinham, confessando e revelando os seus feitos. Muitos também dos que tinham praticado artes mágicas ajuntaram os seus livros e os queimaram na presença de todos; e, calculando o valor deles, acharam que montava a cinquenta mil moedas de prata. Assim a palavra do Senhor crescia poderosamente e prevalecia.” (Atos 19.18-20)
Por que a Palavra de Deus crescia e prevalecia em Éfeso?
Não foi apenas porque foi pregada, e sim, porque as pessoas, depois de receberem a pregação, reconheciam e até mesmo confessavam publicamente os seus pecados! Estude cada avivamento na história e você descobrirá que houve confissão de pecados. Este é o ponto. Quando as pessoas reconhecem suas fraquezas, o poder do Espírito Santo pode se manifestar nelas. Isso é doutrina bíblica!
Deus só opera o seu poder transformador quando reconhecemos as áreas problemáticas, e apenas naquela área que admitimos nossos pecados. Veja o que aconteceu com o profeta Isaías quando teve uma visão do Senhor no templo:
“Então, disse eu: ai de mim! Estou perdido! Porque sou homem de lábios impuros, habito no meio de um povo de impuros lábios, e os meus olhos viram o Rei, o Senhor dos Exércitos! Então, um dos serafins voou para mim, trazendo na mão uma brasa viva, que tirara do altar com uma tenaz; com a brasa tocou a minha boca e disse: Eis que ela tocou os teus lábios; a tua iniquidade foi tirada, e perdoado, o teu pecado”. (Isaías 6.5-7)
Já ouvi muitas vezes a pergunta: “qual o mistério do toque na boca?” E sempre respondo que não há nenhum mistério; foi a oração que o profeta fez reconhecendo impureza em seus lábios. Se a oração de Isaías fosse “sou um homem de olhos impuros”, então o toque santificador viria sobre os olhos. Meus filhos, em um de nossos cultos domésticos, afirmaram que, seguindo essa lógica, alguns crentes precisam de um “banho de brasas”!
Essa é uma verdade bíblica incontestável. Deus só age nas áreas em que reconhecemos nossos pecados. O Senhor Jesus ensinou sobre este princípio:
“Achando-se Jesus à mesa na casa de Levi, estavam juntamente com ele e com seus discípulos muitos publicanos e pecadores; porque estes eram em grande número e também o seguiam. Os escribas dos fariseus, vendo-o comer em companhia dos pecadores e publicanos, perguntavam aos discípulos dele: Por que come [e bebe] ele com os publicanos e pecadores? Tendo Jesus ouvido isto, respondeu-lhes: Os sãos não precisam de médico, e sim os doentes; não vim chamar justos, e sim pecadores.” (Marcos 2.15-17)
Quando, nesta alegoria, Jesus se compara a um “médico”, está falando de si como Salvador; quando fala do “doente” (que precisa da cura do médico) está falando do pecador (que precisa do perdão do Salvador). Porém, quando fala do “são”, não está se referindo a alguém que, por ser justo não precise do Salvador, pois as Escrituras abordam este assunto com clareza: “como está escrito: não há justo, nem sequer um” (Rm 3.10). Se não há ninguém que possa ser justo sem Cristo, quem é esse “são” que não precisa de médico na parábola contada por Jesus? O texto não fala de alguém que seja realmente “são” (justo), mas de alguém que, porque acha que é justo, não reconhece a necessidade do Salvador. Ou seja, não há salvação sem arrependimento e reconhecimento de pecados.
E assim como na conversão, este princípio permanece em toda a vida cristã. Quando desvendamos o rosto, somos transformados. Quando dissimulamos, aparentando não ter pecado algum, a transformação simplesmente não pode acontecer. O Espírito Santo só manifestará seu poder transformador naquelas áreas que expusermos a Ele de forma sincera e honesta. Porém, além de reconhecer fraquezas diante de Deus (que já sabe delas, quer a gente admita ou não), também vejo a necessidade de fazermos isso diante dos homens.
Há uma diferença entre confessar seus erros a Deus e fazê-lo aos homens. Podemos afirmar que o perdão vem com a confissão do pecado a Deus; mas a cura vem com a confissão do pecado aos homens:
“Confessai, pois, os vossos pecados uns aos outros e orai uns pelos outros, para serdes curados. Muito pode, por sua eficácia, a súplica do justo. (Tiago 5.16)