quinta-feira, 6 de setembro de 2012

O EXERCÍCIO DA MISERICÓRDIA


Jesus disse aos fariseus: “Ide e aprendei o que significa: Misericórdia quero e não holocaustos”, citando Oséias 6:6 (veja Mt.9:13). Em Mateus 23:23 temos outra afirmação semelhante: “Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas, porque dais o dízimo da hortelã, do endro e do cominho e tendes negligenciando os preceitos mais importantes da Lei: a justiça, a misericórdia e a fé; devíeis, porém, fazer estas coisas sem omitir aquelas”. (Mt. 23:23). E, seguindo o ensino de Jesus, o apóstolo Tiago ensina: “A religião pura e sem mácula, para com o nosso Deus e Pai, é esta: visitar os órfãos e as viúvas nas suas tribulações e a si mesmo guardar-se incontaminado do mundo”. (Tg. 1:27).
 
Os fariseus tinham uma religião que parecia irretocável, mas Jesus mostrou que ela tinha um defeito horrível: não havia nela nenhum lugar para a misericórdia! Aliás, ele mostrou o mesmo defeito na religião dos sacerdotes e levitas (na parábola do Bom Samaritano - Lc.10:31,32). Em outra ocasião, desejando curar um homem que tinha a mão atrofiada, perguntou aos fariseus: “É lícito nos sábados fazer o bem ou fazer o mal?” (Mc. 3:1-6). Mas eles ficaram em silêncio e Jesus se indignou e se condoeu com a dureza de seus corações.

Creio que Jesus continua experimentando os mesmos sentimentos ainda hoje, quando vê a dureza de nossos corações com respeito aos necessitados que estão ao nosso redor. Muitos cristãos hoje em dia têm uma religião igual à dos escribas, fariseus, sacerdotes e levitas. São pessoas incapazes de se compadecer de seus semelhantes, porque estão presas a regras estritas, pelas quais vivem e julgam todos os demais. Recentemente, alguém que conhece bem o meio evangélico no nordeste do Brasil me disse que lá há crentes que nem cumprimentam os não crentes.
Quando Jesus aconselha a igreja de Éfeso a voltar ao primeiro amor, na primeira das cartas escritas às sete igrejas no Apocalipse (2:1-7), o que ele quis dizer é que, em meio ao combate duríssimo com os diversos hereges que se opunham ao evangelho, os irmãos efésios tinham perdido a capacidade de enternecer-se e de ter misericórdia de quem precisava mais dela do que de outra coisa. Que Deus nos livre de sofrer a mesma repreensão de Jesus!
O exercício da misericórdia ocorre através da generosidade. A Bíblia diz que Deus será generoso para conosco à medida que formos generosos para com os outros (Lc.6:38). Ser generoso é “repartir com os necessitados aquilo que temos” (Rm. 12:13), o que não é um dom; é o procedimento natural do crente. Quem não é generoso é avarento, e a avareza é idolatria, pecado que nos impede de entrar no céu (Cl. 3:5 e Ap.21:8). Portanto, não nos escondamos atrás da capa das dificuldades, mas façamos como os crentes macedônios que mesmo em meio à “sua extrema pobreza transbordaram em rica generosidade” (II Co. 8:2).  
 
O exercício da misericórdia acontece, igualmente, através da solidariedade. Ser solidário é “alegrar-se com os que se alegram e chorar com os que choram” (Rm. 12:15). Ser solidário é “levar as cargas uns dos outros, e assim cumprir a lei de Cristo” (Gl. 6:2). Ser solidário é ter o mesmo sentimento que Jesus Cristo, o qual deixou a sua glória, tornou-se um de nós e submeteu-se alegremente ao sofrimento na cruz, para que nós fôssemos salvos (Fp. 2:1-11; Hb. 2:14,18). Quem não é solidário acaba tornando-se solitário, pois a grande qualidade do solidário é a consciência da sua igualdade com as demais pessoas e da possibilidade de passar pelas mesmas situações pelas quais elas passam.   

O exercício da misericórdia se dá, também, por meio da compaixão. Assim como os fariseus, podemos ter uma doutrina corretíssima e nenhuma compaixão (Mt.23:23). Por isso Jesus ordenou aos seus seguidores: “Vocês devem amar seus inimigos, fazer o bem, e emprestar sem esperar receber de volta. Assim será grande a sua recompensa, e vocês serão filhos do Deus altíssimo, que é bondoso com os mal-agradecidos e com os maus. Sejam compassivos como também seu Pai é compassivo. Não julguem os outros, e Deus não julgará a vocês. Não condenem os outros, e Deus não condenará vocês. Perdoem, e Deus os perdoará”. (Lc. 6:35-37). Freqüentemente o que as pessoas mais precisam é de compaixão, e não de recriminação.
Portanto, o grande segredo do exercício da misericórdia é colocar-se no lugar do outro, e nisso ninguém se igualou a Jesus. Sigamos seus passos (I Pd.2:21-25).

Pr. Sylvio Macri


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